Lucas, 17: 20 a 37.
Interrogado pelos fariseus sobre quando viria o reino de Deus, Jesus respondeu: “Não vem o reino de Deus com visível aparência”. Nem dirão ei-lo aqui ou lá está. “Porque o reino de Deus está dentro de vós”.
O povo esperava o Messias que viria com extraordinários poderes, com autoridade para expulsar os dominantes Romanos da região. Entretanto, Jesus nasceu numa manjedoura, de forma bastante simples e humilde, junto aos animais. Além disso, não veio com todas as pompas esperadas, porquanto como dedicado trabalhador, como filho de carpinteiro. Quando chegou foi recebido com desconfiança pelos fariseus e povo, que não acreditavam que o filho do carpinteiro estivesse comprometido como o missionário salvador.
Em vista disso, continuamente o Mestre Jesus tinha a incumbência de esquivar das armadilhas preparadas pelos fariseus, que almejavam tirá-lo de circulação, porquanto não concordavam com as pregações junto aos povos das regiões. E numa costumeira tentativa de colocá-lo em dificuldades, frequentemente faziam perguntas, sempre junto das pessoas que se beneficiavam com as sábias orientações do sublime Mestre. Numa oportunidade, feita a pergunta, quando viria o reino de Deus, afirmou que o reino de Deus não vem com visível aparência. Na afirmação deixou bem claro que o reino de Deus não teria aparência visível, isto é, não poderia ser analisado fisicamente como queriam os fariseus. Afirmou ainda que o reino de Deus está dentro de vós.
Até hoje, embora muitos tenham ouvido claramente diversas vezes “o reino de Deus está dentro de vós”,o sentido parece ainda vago e incompreendido. Soando aos ouvidos automaticamente, parece que os povos não prestaram atenção sobre a importância do correto entendimento. Tanto é que a sociedade, de maneira geral, em todas as regiões da Terra, praticamente não apresentou nenhuma melhora significativa. É possível que quase todos os que já ouviram a divina afirmação do Mestre, nunca levaram em consideração, pois, até mesmo religiosos profissionais falharam diante de seus conhecidos seguidores.
Nos diversos séculos que se passaram, a história das religiões encontra-se repleta de atuações contrárias ao amor de Deus, práticas hediondas estão registradas no livro da vida, onde milhares de vidas foram sacrificadas em nome das leis de Deus. Apesar da justificativa de que o homem é homem, não importa a qualificação do status de suas ocupações, porque depende fundamentalmente do caráter da alma, que deve ser purificada pelas contínuas práticas de amor e bondade, em prol dos semelhantes. É por isso que o ensinamento do Mestre Jesus levantava tamanha oposição dos fariseus, sacerdotes e autoridades das religiões. Ninguém, além dos apóstolos e discípulos mais chegados do Mestre Jesus, outros não conseguiam compreender o real sentido das palavras “o reino de Deus está dentro de vós”.
Até mesmo entre os apóstolos de Jesus, frequentemente o Mestre Jesus passava considerável tempo esclarecendo as verdades de suas pregações. No caso, para entender corretamente o ensinamento “o reino de Deus está dentro de vós”,prosseguindo nas explanações, o Mestre disse: “Virá o tempo em que desejareis ver um dos dias do Filho do homem e não o vereis”. Em seguida, afirmou: “E vos dirão, ei-lo aqui, ou, lá está”. Disse ainda: “não vades nem os sigais; porque assim como o relâmpago, fuzilando, brilha de uma à outra extremidade do céu, assim será, no seu dia, o Filho do homem”.
O Mestre Jesus, no caso do relâmpago, estava se referindo, em termos proféticos, a respeito do seu dia de martírio, quando de fato o céu estaria preenchido de brilhos causados pelos relâmpagos. Assim, realmente constam nas páginas do Evangelho.
Na passagem de Lucas, 17: 25, consta: “Mas importa que primeiro ele padeça muitas coisas e seja rejeitado por esta geração”. Profeticamente, estava se referindo ao momento de sua captura pelos membros do Sinédrio, cúpula dos fariseus dominantes, quando Pôncio Pilatos submeteu à avaliação popular a soltura do Mestre, constatou-se a rejeição maciça do povo, optando pelo ladrão Barrabás. Exatamente, os que tinham recebido consideráveis benefícios do Mestre Jesus, na hora suprema, simplesmente o rejeitaram, votando pela salvação do criminoso e bandido Barrabás. Mas, os membros do Sinédrio, distribuindo moedas ao povo corrompido pela ganância, acompanharam docilmente votações contrárias à soltura do Mestre Jesus.
Em Lucas, 17: 26, “Assim
como foi nos dias de Noé, será também nos dias do Filho do homem:
(17: 27) – comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento,
até o dia em que Noé entrou na arca, e veio o dilúvio e destruiu a todos”.
(Lucas, 17: 28) –“ O mesmo aconteceu nos dias de Ló: comiam, bebiam, compravam, vendiam, plantavam e edificavam; ( Lucas, 17: 29), mas, no dia em que Ló saiu de Sodoma, choveu do céu fogo e enxofre e destruiu a todos. (Lucas, 17: 30) – Assim será no dia em que o Filho do homem se manifestar”.
Conforme os textos de Lucas, versículos 26 a 30, tanto no caso de Noé, quanto no de Ló, houve a destruição de tudo quanto fora deixado para trás, significando com isso que as coisas negativas e prejudiciais, os pecados e causas imperfeitas, de muitas almas que ficaram na dúvida, que não aceitaram os desígnios do Senhor, foram totalmente destruídas. Da mesma forma, os que acreditaram e seguiram os desígnios da orientação divina foram salvos. Porque, deixaram que as coisas pecaminosas e imperfeitas ficassem totalmente abandonadas, para que, com isso, suas almas pudessem situar-se no divino Reino de Deus. Quando se abandonar todas as imperfeições, abandonando todas as causas negativas e ilusórias, passando a apreciar somente as partes iluminadas, e deixando que todos os cantos da alma fossem totalmente transformados à luz do amor, somente assim se poderia fazer manifestar o divino Reino de Deus. Para que possamos viver no maravilhoso Reino de Deus, imprescindível transformar completamente todas as questões interiores, notadamente pela aceitação incondicional dos desígnios de Deus, ou seja, viver de acordo com a vontade de Deus.
No versículo 31, capítulo 17, de
Lucas, consta: “Naquele dia, quem estiver no eirado e tiver os seus
bens em casa não desça para tirá-los; e de igual modo quem estiver no campo não
volte para trás”. Lucas, 17: 31 – “Lembrai-vos da mulher
de Ló”.
Lucas, 17: 32 – “Quem quiser preservar a sua vida perdê-la-á; e quem a
perder de fato a salvará”.
O Mestre Jesus, profetizando situações futuras, exemplificando o especial abandono de todas as coisas negativas, não carregando coisas desnecessárias, principalmente aspectos materiais, ou coisas ilusórias, para que a alma pudesse alcançar a salvação, isto é, viver no Reino de Deus. Porém, o povo optando pela crucificação do Mestre Jesus, ou seja, a verdadeira fonte da salvação, concentrando nos interesses materiais, onerando especialmente a alma com pesados ônus dos erros e imperfeições. Erraram profundamente todos os que deixaram para depois a salvação, esquecendo o caminho ensinado pelo Senhor Jesus. Não encontraram o Reino de Deus.
Na questão, quem quiser preservar a sua vida perdê-la-á, e quem a perder de fato a salvará, podemos entender que, carregando-se a ilusão da matéria na alma, não abandonando de vez os pesados encargos dos pecados, das imperfeições, dos sintomas prejudiciais, a salvação, isto é, o Reino de Deus prometido jamais poderia se manifestar concretamente na vida. Por isso, quem perder de fato a salvará, quer dizer, deixando ao abandono todas as coisas desnecessárias, não permitindo que os proveitos imediatos da matéria perecível ocupem parte preciosa da vida, porque somente assim poderá encontrar o divino Reino de Deus dentro da própria alma.
Prosseguindo na explanação dos
ensinamentos, o Senhor Jesus destacou: “Digo-vos que, naquela noite,
dois estarão numa cama; um será tomado, e deixado o outro; duas mulheres
estarão juntas moendo; uma será tomada, e deixada a outra; dois estarão no
campo; um será tomado, e o outro, deixado”.
“Então, lhe perguntaram: Onde será isso, Senhor? Respondeu-lhes; onde estiver o
corpo, aí se ajuntarão também os abutres”. (Lucas, 17: 34 a 37).
“Naquela noite” Jesus estava se referindo na noite do martírio, após a crucificação, pelo término da tempestade e adentrando as sombras dos lamentos pela morte do sublime Mestre. Pelo entendimento, de dois, deixando um e sendo tomado outro, corresponde às questões dos corpos carnais e espirituais, ou seja, enfatizou a importância de que o corpo permanece na Terra, à disposição dos abutres, enquanto a sagrada alma e o espírito imortal, vivificados pela vida de Deus, prosseguem nos infinitos caminhos da luz e do amor. A plena aceitação dos ensinamentos do Mestre Jesus, indicativo do verdadeiro despertar espiritual, é o único caminho na manifestação do Reino de Deus situado no interior da alma.